FALEMOS DO QUE INTERESSA
As notícias e as sondagens sobre alguns dos candidatos a autarcas envolvidos em processos judiciais der natureza criminal enchem o melhor espaço da comunicação social portuguesa e alimentam as expectativas sobre o desfecho das lutas eleitorais nos respectivos concelhos. Como jurista, acredito no princípio da presunção da inocência, segundo o qual, qualquer arguido se presume inocente até haver uma decisão judicial condenatória, da qual não se possa recorrer. Acreditar neste princípio significa acreditar, também, num dos pilares essenciais do Estado de direito democrática, rejeitando, do mesmo passo, os julgamentos públicos e mediáticos efectuados diariamente nos órgãos de comunicação social, muitas vezes sem pudor ou sem limites.
No plano jurídico a questão apenas se pode colocar deste modo, porque é assim que se garante a defesa de quem é denunciado ou acusado e se asseguram os meios jurídicos para o seu efectivo exercício.
Já no plano social, da percepção que os eleitores têm dos políticos – eleitos em sufrágio directo, secreto e universal – custa a aceitar que os eleitores não venham a fazer um juízo de censura sobre o comportamento político daqueles que elegeram e que os representam.
O caso da Dra. Felgueiras é paradigmático neste aspecto: depois de mais de dois anos no Brasil, para onde viajou para evitar o cumprimento duma mediada de coacção privativa da liberdade, regressa com dia e hora anunciados, sob os holofotes da comunicação social, para no dia seguinte – precisamente, no dia seguinte – iniciar a sua campanha eleitoral para o Município de Felgueiras, com direito a cartazes e outros meios de campanha que não se produzem apenas num dia.
As sondagens, entretanto publicadas, indicam que a Dra. Felgueiras poderá ser a vencedora da contenda eleitoral. Não sei se ela é culpada ou inocente, se praticou ou não os crimes de que vem acusada, cabendo ao Tribunal competente fazer o julgamento do caso e decidir; sei, porém, que se trata duma cidadã que troçou da justiça, fugindo para o Brasil.
Os eleitores de Felgueiras não se incomodarão com este tipo de comportamentos? Valerá tudo na política? Os eleitores não se importam de voltar a eleger quem adopta o tipo de comportamentos e o estilo da Dra. Felgueiras?
Pelos vistos a consciência e o sentido crítico do eleitorado está adormecido. Apenas esse facto pode explicar que um editorial de Nuno Mendes no Jornal dos Açores, de 23 de Setembro não tenha merecido nenhum comentário.
Relata o editor executivo daquele jornal que uma assessora de imprensa do Presidente da Câmara Municipal da Lagoa contactou o jornal manifestando o "desagrado" daquele autarca quanto à forma como o jornal cobriu algumas acções do município lagoense e comunicando que o autarca "vai mandar retirar a publicidade e as assinaturas do jornal" (sic).
A ousadia da declaração é espantosa. A ser verdade o que o jornal relata – o que não foi desmentido até hoje – trata-se duma forma inaceitável de pressão sobre os jornalistas, através dum poderoso instrumento: os meios financeiros de natureza pública.
Aqui sim, estamos perante a mercearia da troca de notícias pela publicidade institucional, procurando condicionar, limitar ou cercear a liberdade de informação dos jornalistas, goste-se ou não do estilo de jornalismo do praticado pelo jornal.
Estranhamente, o caso ficou-se por um editorial. Nem uma reacção do sindicato dos jornalistas, nem a publicação duma eventual resposta de João Ponte a perguntas de jornalistas sobre este assunto. Nada. Absolutamente nada!
Como dizia Francisco Sá Carneiro, a "política sem ética é uma vergonha". Até onde iremos?
As notícias e as sondagens sobre alguns dos candidatos a autarcas envolvidos em processos judiciais der natureza criminal enchem o melhor espaço da comunicação social portuguesa e alimentam as expectativas sobre o desfecho das lutas eleitorais nos respectivos concelhos. Como jurista, acredito no princípio da presunção da inocência, segundo o qual, qualquer arguido se presume inocente até haver uma decisão judicial condenatória, da qual não se possa recorrer. Acreditar neste princípio significa acreditar, também, num dos pilares essenciais do Estado de direito democrática, rejeitando, do mesmo passo, os julgamentos públicos e mediáticos efectuados diariamente nos órgãos de comunicação social, muitas vezes sem pudor ou sem limites.
No plano jurídico a questão apenas se pode colocar deste modo, porque é assim que se garante a defesa de quem é denunciado ou acusado e se asseguram os meios jurídicos para o seu efectivo exercício.
Já no plano social, da percepção que os eleitores têm dos políticos – eleitos em sufrágio directo, secreto e universal – custa a aceitar que os eleitores não venham a fazer um juízo de censura sobre o comportamento político daqueles que elegeram e que os representam.
O caso da Dra. Felgueiras é paradigmático neste aspecto: depois de mais de dois anos no Brasil, para onde viajou para evitar o cumprimento duma mediada de coacção privativa da liberdade, regressa com dia e hora anunciados, sob os holofotes da comunicação social, para no dia seguinte – precisamente, no dia seguinte – iniciar a sua campanha eleitoral para o Município de Felgueiras, com direito a cartazes e outros meios de campanha que não se produzem apenas num dia.
As sondagens, entretanto publicadas, indicam que a Dra. Felgueiras poderá ser a vencedora da contenda eleitoral. Não sei se ela é culpada ou inocente, se praticou ou não os crimes de que vem acusada, cabendo ao Tribunal competente fazer o julgamento do caso e decidir; sei, porém, que se trata duma cidadã que troçou da justiça, fugindo para o Brasil.
Os eleitores de Felgueiras não se incomodarão com este tipo de comportamentos? Valerá tudo na política? Os eleitores não se importam de voltar a eleger quem adopta o tipo de comportamentos e o estilo da Dra. Felgueiras?
Pelos vistos a consciência e o sentido crítico do eleitorado está adormecido. Apenas esse facto pode explicar que um editorial de Nuno Mendes no Jornal dos Açores, de 23 de Setembro não tenha merecido nenhum comentário.
Relata o editor executivo daquele jornal que uma assessora de imprensa do Presidente da Câmara Municipal da Lagoa contactou o jornal manifestando o "desagrado" daquele autarca quanto à forma como o jornal cobriu algumas acções do município lagoense e comunicando que o autarca "vai mandar retirar a publicidade e as assinaturas do jornal" (sic).
A ousadia da declaração é espantosa. A ser verdade o que o jornal relata – o que não foi desmentido até hoje – trata-se duma forma inaceitável de pressão sobre os jornalistas, através dum poderoso instrumento: os meios financeiros de natureza pública.
Aqui sim, estamos perante a mercearia da troca de notícias pela publicidade institucional, procurando condicionar, limitar ou cercear a liberdade de informação dos jornalistas, goste-se ou não do estilo de jornalismo do praticado pelo jornal.
Estranhamente, o caso ficou-se por um editorial. Nem uma reacção do sindicato dos jornalistas, nem a publicação duma eventual resposta de João Ponte a perguntas de jornalistas sobre este assunto. Nada. Absolutamente nada!
Como dizia Francisco Sá Carneiro, a "política sem ética é uma vergonha". Até onde iremos?
Publicado na edição do Açoriano Oriental de 28 de Agosto de 2005