ESTÁ ENGANADO, SENHOR PRESIDENTE!
O Presidente Jorge Sampaio, na sessão inaugural do Congresso da Cidadania, aproveitou para se pronunciar sobre a revisão constitucional de 2004, quanto ao sistema autonómico.
Para que não restem dúvidas sobre aquilo que disse o Presidente da República, cito textualmente o seu discurso (disponível para consulta integral em www.presidenciarepublica.pt): "Pode dizer-se que a última revisão instituiu um sistema que, não sendo, como qualquer outro, perfeito, dificilmente pode ser alterado, pelo menos de forma substancial, sem provocar rupturas incompatíveis com a natureza de um Estado unitário com Regiões Autónomas. No domínio da racionalização do funcionamento do sistema político regional, das competências legislativas e da representação da República a última revisão constitucional foi até onde se pode legitimamente ir sem pôr em causa a subsistência do Estado unitário e do valor constitucional que representam as autonomias regionais."
Seguindo esta linha de argumentação, o Dr. Jorge Sampaio defende que a última revisão constitucional "sela de forma globalmente positiva um longo processo de evolução e maturação institucionais". Isto é, para o Presidente da República, o sistema autonómico dos Açores e da Madeira atingiu o seu último patamar de aprofundamento. A última revisão constitucional representa, para o Presidente da República, uma espécie de "nirvana" autonómico e constitucional. A partir daqui, de acordo com a perspectiva que defendeu, apenas resta a ruptura com o modelo de Estado unitário regional.
Mais uma vez o Presidente da República se equivoca!
Em primeiro lugar, o Dr. Jorge Sampaio parece ignorar que o sistema autonómico inscrito matricialmente na Constituição da República, logo em 1976, contém alguns elementos típicos dum Estado federado. Apesar da Constituição proclamar a República Portuguesa como um Estado unitário com regiões autónomas, a verdade é que a letra da lei foi conceptualmente ultrapassada quer pelo texto originário da Constituição, quer pelas sucessivas revisões constitucionais. A preocupação do Presidente da República quanto à unidade do Estado é excessiva e apenas se compreende porque o Dr. Jorge Sampaio nunca gostou desta revisão constitucional, o que agora deixou bem claro.
Em segundo lugar, declarar, como o fez o Presidente da República, que a evolução da autonomia está selada, é negar precipitadamente o carácter dinâmico do processo autonómico, entendido sempre como uma reivindicação da periferia em relação ao poder central. A natureza do poder político residente que a autonomia político-administrativa comporta, não se compraz com o obituário que o Dr. Jorge Sampaio lavrou. A autonomia, como todos os Açorianos e Madeirenses sabem, pressupõe sempre reivindicação do poder central.
Uma autonomia não reivindicativa é uma autonomia moribunda ou morta. Pode ser esta a autonomia do Dr. Jorge Sampaio. Não é a minha!
Em terceiro lugar, o Presidente da República esquece que não há processos legislativos perfeitos, nem sequer o de revisão constitucional. Porque a autonomia não se confunde com o exercício da governação ou com o desenvolvimento das ilhas, continua a haver espaço para a evolução do sistema autonómico, em áreas que a última revisão constitucional ignorou ou não resolveu bem.
Por todas estas razões, o PSD/Açores tinha razão quando, no seu Congresso – há quinze dias – defendia que o próximo Presidente da República, muito embora fosse o garante da unidade do estado, soubesse corporizar as "históricas aspirações autonomistas" dos Açorianos e dos Madeirenses.
O Presidente Jorge Sampaio, na sessão inaugural do Congresso da Cidadania, aproveitou para se pronunciar sobre a revisão constitucional de 2004, quanto ao sistema autonómico.
Para que não restem dúvidas sobre aquilo que disse o Presidente da República, cito textualmente o seu discurso (disponível para consulta integral em www.presidenciarepublica.pt): "Pode dizer-se que a última revisão instituiu um sistema que, não sendo, como qualquer outro, perfeito, dificilmente pode ser alterado, pelo menos de forma substancial, sem provocar rupturas incompatíveis com a natureza de um Estado unitário com Regiões Autónomas. No domínio da racionalização do funcionamento do sistema político regional, das competências legislativas e da representação da República a última revisão constitucional foi até onde se pode legitimamente ir sem pôr em causa a subsistência do Estado unitário e do valor constitucional que representam as autonomias regionais."
Seguindo esta linha de argumentação, o Dr. Jorge Sampaio defende que a última revisão constitucional "sela de forma globalmente positiva um longo processo de evolução e maturação institucionais". Isto é, para o Presidente da República, o sistema autonómico dos Açores e da Madeira atingiu o seu último patamar de aprofundamento. A última revisão constitucional representa, para o Presidente da República, uma espécie de "nirvana" autonómico e constitucional. A partir daqui, de acordo com a perspectiva que defendeu, apenas resta a ruptura com o modelo de Estado unitário regional.
Mais uma vez o Presidente da República se equivoca!
Em primeiro lugar, o Dr. Jorge Sampaio parece ignorar que o sistema autonómico inscrito matricialmente na Constituição da República, logo em 1976, contém alguns elementos típicos dum Estado federado. Apesar da Constituição proclamar a República Portuguesa como um Estado unitário com regiões autónomas, a verdade é que a letra da lei foi conceptualmente ultrapassada quer pelo texto originário da Constituição, quer pelas sucessivas revisões constitucionais. A preocupação do Presidente da República quanto à unidade do Estado é excessiva e apenas se compreende porque o Dr. Jorge Sampaio nunca gostou desta revisão constitucional, o que agora deixou bem claro.
Em segundo lugar, declarar, como o fez o Presidente da República, que a evolução da autonomia está selada, é negar precipitadamente o carácter dinâmico do processo autonómico, entendido sempre como uma reivindicação da periferia em relação ao poder central. A natureza do poder político residente que a autonomia político-administrativa comporta, não se compraz com o obituário que o Dr. Jorge Sampaio lavrou. A autonomia, como todos os Açorianos e Madeirenses sabem, pressupõe sempre reivindicação do poder central.
Uma autonomia não reivindicativa é uma autonomia moribunda ou morta. Pode ser esta a autonomia do Dr. Jorge Sampaio. Não é a minha!
Em terceiro lugar, o Presidente da República esquece que não há processos legislativos perfeitos, nem sequer o de revisão constitucional. Porque a autonomia não se confunde com o exercício da governação ou com o desenvolvimento das ilhas, continua a haver espaço para a evolução do sistema autonómico, em áreas que a última revisão constitucional ignorou ou não resolveu bem.
Por todas estas razões, o PSD/Açores tinha razão quando, no seu Congresso – há quinze dias – defendia que o próximo Presidente da República, muito embora fosse o garante da unidade do estado, soubesse corporizar as "históricas aspirações autonomistas" dos Açorianos e dos Madeirenses.