30.5.06

DEIXA QUE EU CHUTO!


O futebol tomou conta do país. Entre a selecção dos sub-21 e a selecção que se prepara para o Mundial, o futebol marca o ritmo de Portugal. A vida escorre entalada entre as referências ao futebol que, com a aproximação do início do Mundial, ganham cada vez mais expressão informativa.

Os que amam o futebol e os que o odeiam ou, simplesmente, lhe são indiferentes, vivem numa sociedade em o tempo é marcado pelo futebol.

Ao longo do dia, mas em especial à hora do jantar, as televisões servem-nos doses maciças de especiais sobre as selecções, os craques e as trivialidades do dia-a-dia.

Qualquer declaração serve para alimentar uma polémica. Uma polémica faz ganhar audiências e as audiências aumentam a facturação. Não tem que saber: a receita é tão velha quanto o mundo. Os espectadores gostam e os accionistas (mesmo que seja o Estado, na pública RTP) não desdenham.

O futebol domina a informação e a agenda informativa, numa sub-espécie de jornalismo desportivo que faz a "Hola" – uma das mais famosas revistas do coração do nosso tempo – corar de vergonha.

Portugal tornou-se numa república da bola. Convenientemente o Governo da República e o Governo Regional desaparecerão no perfume dos relvados. Desemprego? Despesa pública? Problemas no sistema de saúde? Atraso no desenvolvimento? Os barcos de transporte de passageiros que custam milhões à Região e que não navegam? Os números alarmantes do consumo de álcool nestas ilhas?

Contra o Pauleta, o Simão, o Cristiano Ronaldo, o Ricardo, o Scloari os factos nada podem. José Sócrates e Carlos César podem sorrir. A sociedade encolhe os ombros e prepara-se para seguir, do sofá, as jogadas dos príncipes da bola. De preferência num plasma gigante, novinho em folha, comprado a prestações, que a banca facilita.

18.5.06

OS EQUÍVOCOS DE VASCO CORDEIRO


O Secretário da Presidência, Vasco Cordeiro, em entrevista à última edição do "Expresso das Nove" não consegue fugir ao pensamento mainstream, corolário, não apenas da direcção socialista, mas também do Governo de que ele é um proeminente membro.

A entrevista é elucidativa porque, sendo concedida por um dirigente partidário e Secretário Regional com acrescidas responsabilidades políticas, dela não transparece qualquer ideia – por mais fugidia que possa ser – quanto a opções do governo, atitudes políticas ou ideias políticas que sustentem a designada "nova geração de políticas", elevada a novo céu do Governo de Carlos César.
As declarações do Dr. Vasco Cordeiro assentam em três aspectos: numa crítica ao estilo de oposição protagonizada pelo PSD, num elogio comedido – que não disfarça o incómodo – ao Vice-Presidente do Governo e numa modesta explicação do reajustamento governamental recentemente anunciado.
O Dr. Vasco Cordeiro rende-se à facilidade discursiva: ora critica a oposição por não ter ideias, por não apresentar iniciativas, ao mesmo tempo que critica algumas das propostas que o PSD efectivamente apresenta (na circunstância, o diploma sobre a publicidade institucional nos órgãos de comunicação regional).
A contradição é evidente e reveladora do facto do PS conviver mal – muito mal, mesmo – com as críticas, venham elas da oposição ou da sociedade civil, num comportamento autista, acentuado nos últimos meses.
O PS comporta-se como guardião do céu, quando o cumprimento do mandato que o povo lhe conferiu o obriga a respeitar a oposição, a aceitar a crítica e a compreender que a qualidade da democracia é uma exigência na sociedade açoriana.
Quando o Secretário da Presidência ocupa grande parte duma entrevista a falar da oposição isso significa que não quer falar muito do governo a que pertence e que a oposição está a cumprir o seu papel: fiscaliza o Governo.
PUBLICADO NA EDIÇÃO DE 17 DE MAIO DE 2006, DO AÇORIANO ORIENTAL