O futebol tomou conta do país. Entre a selecção dos sub-21 e a selecção que se prepara para o Mundial, o futebol marca o ritmo de Portugal. A vida escorre entalada entre as referências ao futebol que, com a aproximação do início do Mundial, ganham cada vez mais expressão informativa.
Os que amam o futebol e os que o odeiam ou, simplesmente, lhe são indiferentes, vivem numa sociedade em o tempo é marcado pelo futebol.
Ao longo do dia, mas em especial à hora do jantar, as televisões servem-nos doses maciças de especiais sobre as selecções, os craques e as trivialidades do dia-a-dia.
Qualquer declaração serve para alimentar uma polémica. Uma polémica faz ganhar audiências e as audiências aumentam a facturação. Não tem que saber: a receita é tão velha quanto o mundo. Os espectadores gostam e os accionistas (mesmo que seja o Estado, na pública RTP) não desdenham.
O futebol domina a informação e a agenda informativa, numa sub-espécie de jornalismo desportivo que faz a "Hola" – uma das mais famosas revistas do coração do nosso tempo – corar de vergonha.
Portugal tornou-se numa república da bola. Convenientemente o Governo da República e o Governo Regional desaparecerão no perfume dos relvados. Desemprego? Despesa pública? Problemas no sistema de saúde? Atraso no desenvolvimento? Os barcos de transporte de passageiros que custam milhões à Região e que não navegam? Os números alarmantes do consumo de álcool nestas ilhas?
Contra o Pauleta, o Simão, o Cristiano Ronaldo, o Ricardo, o Scloari os factos nada podem. José Sócrates e Carlos César podem sorrir. A sociedade encolhe os ombros e prepara-se para seguir, do sofá, as jogadas dos príncipes da bola. De preferência num plasma gigante, novinho em folha, comprado a prestações, que a banca facilita.