20.6.06

AS "BRASILEIRAS" DO PRESIDENTE

O discurso do Presidente do Governo Regional, na semana passada, em Rabo de Peixe, quando acusou as Câmaras Municipais de gastarem dinheiro em cantoras "brasileiras", ao invés de investirem na promoção da habitação social é revelador duma atitude política e dum comportamento institucionalmente desadequado. A intervenção sobre as "brasileiras" não pode ser interpretada à margem do que disse o Presidente do Governo na sessão solene comemorativa do dia da Região: o chefe do executivo, não só continua a confundir o seu papel institucional de Presidente do Governo com o de líder partidário, como resiste cada vez menos à tentação de desqualificar os outros poderes fácticos da sociedade açoriana, sobretudo os que estão legitimadas por meio do voto popular. Com uma maioria confortável no parlamento, com uma liderança inquestionável dentro do Partido Socialista, com autoridade pessoal e política sobre todos os membros do seu Governo, o que pode levar Carlos César a comportar-se desta maneira, a dois anos de eleições? Em primeiro lugar, um certo incómodo de Carlos César com a função que desempenha. O líder socialista vê-se arrastado para um futuro que não desejou para si próprio: abundam os indícios – alimentados pelo próprio, antes de mais – de que poderá candidatar-se a um quarto mandato, o que o deixa desconfortável. Carlos César deixa que as circunstâncias lhe imponham um percurso que tanto criticou ao seu arqui-rival, Mota Amaral. Sem espaço político fora dos Açores, Carlos César perdeu a frescura política de outros tempos perante a encruzilhada do seu percurso. Em segundo lugar, o tempo demonstrou que o Presidente do Governo convive mal com a crítica ou com o poder de outros. As críticas da oposição têm acertado no alvo e o poder de outros leva-o a discursos despropositados – alguns dirão que é a sua natureza; acrescento que é a consequência do momento. As "brasileiras" do Governo não têm nomes melodiosos, nem dizem "oi", mas custam bem mais ao erário público: Transmaçor, SCUT’s, Portas do Mar, Kairós e tantas outras.
PUBLICADO NO AÇORIANO ORIENTAL EM 14 DE JUNHO DE 2006

7.6.06

DIA DA REGIÃO - O DISCURSO DO PRESENTE IMPERFEITO

O discurso do Presidente do Governo Regional na cerimónia de comemoração do Dia da Região revela, por um lado, o estado de alma dos socialistas açorianos, e por outro, a falta de ambição que o chefe do executivo tem em relação ao processo autonómico.

Na mesma sala da Sociedade Amor da Pátria, na qual os socialistas açorianos exibiram institucionalmente – quando o parlamento ali funcionou – o seu desconforto e o seu desacordo com a construção do processo autonómico, Carlos César faz-se apresentar como Presidente dos Açores (cargo inexistente, já que é somente Presidente do Governo Regional) e profere um discurso de chefe partidário.

Sem rasgo e sem brilho, o chefe do executivo prefere o discurso do auto-elogio da obra socialista, num registo marcadamente partidário, inadequado a uma cerimónia plural, na qual se celebra os Açores e se exalta a afirmação dos açorianos, nas ilhas e no mundo, à reflexão serena sobre os desafios que se colocam à Autonomia, como fez – e bem – o Presidente da Assembleia Legislativa.

O universo do pensamento político socialista sobre a Autonomia resume-se ao dia-a-dia da governação.

Acossado pelas críticas da oposição à sua governação, em áreas de notório insucesso, como a educação e a saúde, o Presidente do Governo, mistura o plano do combate político – a que se furta no parlamento - com a posição institucional, numa atitude que lhe é cada vez mais frequente.

Com ciúmes duma história que não pode mudar, o Presidente do Governo mal se referiu às personalidades e instituições que o parlamento deliberou homenagear, o que se compreende mal, quando entre os homenageados estava Mota Amaral.

No seu discurso, Carlos César falou das desconfianças em relação à Autonomia. Tem razão na afirmação, muito embora ignore que o seu estilo de governação é o responsável por outro tipo de desconfiança, bem mais grave: quanto à credibilidade dos membros do seu governo e ao bom uso dos dinheiros públicos.