CONSTRUIR UMA ALTERNATIVA POLÍTICA
1. A demissão de Victor Cruz, após um acto eleitoral em que o PSD/Açores foi bem sucedido nos seus propósitos e objectivos eleitorais, vem lançar o partido numa nova crise de liderança cujos contornos ainda são indefinidos. Muito embora tal facto já não seja relevante, importa sempre assinalar que foi com o mesmo líder que o PSD foi capaz do melhor e do pior, quanto a resultados eleitorais: vitória nas autárquicas e derrota nas legislativas nacionais e nas anteriores regionais; derrota nas europeias e vitória nas legislativas nacionais, nas quais o próprio líder do PSD foi cabeça de lista; por fim, vitória nas quase longínquas autárquicas de 2001.
Ao longo de cinco anos, Victor Cruz federou as várias sensibilidades do PSD, agregou à sua volta novos e velhos dirigentes e procurou construir uma alternativa política ao poder socialista na Região. Não foi bem sucedido no plano regional, o que – de acordo com a história e a ciência política – acabou por traçar o seu destino político imediato.
O PSD e os seus dirigentes têm uma dívida de gratidão para com Victor Cruz que é justo assinalar.
2. Com a realização dum congresso extraordinário, os sociais-democratas escolherão um novo líder, para conduzir os destinos do PSD. O primeiro grande desafio que se coloca ao PSD é o de se assumir como alternativa e como um partido de alternativas políticas ao PS.
A crise de liderança não determina o fim do PSD, ao contrário do que o PS poderia secretamente desejar, como resulta da crescente tendência hegemónica que diariamente exibe em todos os sectores da sociedade.
A alternativa política que o PSD tem de assumir passa pela denúncia e combate à quase-mexicanização da vida política e social dos Açores.
3. O PSD tem de protagonizar uma luta sem quartel pela qualidade da democracia nos Açores: pela qualidade da democracia no parlamento, transformado pela maioria socialista num centro de poder simbólico, no qual exibe o seu cansaço pelos debates, impondo pela força dos votos a sua vontade; pela qualidade dos protagonistas políticos a todos os níveis, que não devem exibir na vida política virtudes que a sua vida privada não autoriza; pela qualidade e diferença das propostas políticas que simbolizem uma maneira diferente de olhar a sociedade, de resolver os problemas das pessoas e traduzam uma outra maneira de governar os Açores; pela qualidade da sua intervenção na sociedade, de modo a que os eleitores reconheçam o PSD e os seus dirigentes como arautos duma mudança política.
4. No fundo, o PSD precisa duma nova atitude política, depois dum inevitável período de "nojo" após as eleições regionais de 2004. O aggiornamento do PSD entronca numa nova forma de abertura à sociedade civil, de relacionamento com os poderes que dela emanam, de entendimento sobre os anseios das pessoas, em especial, dos que se querem expressar e não o fazem por medo ou receio. A cultura de liberdade – causa pela qual vale sempre a pena lutar, mesmo nos Açores do século XXI – tem de ser um imperativo ético dum partido social democrata que também não pode ter receio de assumir rupturas na sociedade açoriana, em domínios como a educação, a saúde ou a organização do Estado.
5. Uma palavra, aqui, para me referir a um aspecto essencial para a nossa vida enquanto comunidade política organizada: a revisão do Estatuto Político-Administrativo. O processo de revisão da nossa "lei fundamental" não deve ser um processo pastoso, no qual se confundam as propostas do PSD e do PS, sobretudo porque o PSD tem um património quanto ao aprofundamento da autonomia que não pode, nem deve abandonar, sob pena de se negar a si próprio.
Por isso mesmo, o PSD deve apresentar – para provocar um amplo debate público – a sua própria proposta de revisão do Estatuto, sem prejuízo, das conversações que possa manter com o PS quanto à revisão do Estatuto e do diálogo com outras forças políticas com assento parlamentar.
6. O próximo congresso do PSD terá de ser o congresso duma inevitável clarificação. Não entre uma nova e uma velha geração, como alguns querem fazer crer, mas entre atitudes e modos de fazer política.
O congresso do PSD não será o congresso da eleição dum líder de transição, porque esta é apenas a tese daqueles, poucos, preocupados com o esgotamento do seu próprio tempo. Será sim, a transição para uma nova fase, para um novo tempo.
1. A demissão de Victor Cruz, após um acto eleitoral em que o PSD/Açores foi bem sucedido nos seus propósitos e objectivos eleitorais, vem lançar o partido numa nova crise de liderança cujos contornos ainda são indefinidos. Muito embora tal facto já não seja relevante, importa sempre assinalar que foi com o mesmo líder que o PSD foi capaz do melhor e do pior, quanto a resultados eleitorais: vitória nas autárquicas e derrota nas legislativas nacionais e nas anteriores regionais; derrota nas europeias e vitória nas legislativas nacionais, nas quais o próprio líder do PSD foi cabeça de lista; por fim, vitória nas quase longínquas autárquicas de 2001.
Ao longo de cinco anos, Victor Cruz federou as várias sensibilidades do PSD, agregou à sua volta novos e velhos dirigentes e procurou construir uma alternativa política ao poder socialista na Região. Não foi bem sucedido no plano regional, o que – de acordo com a história e a ciência política – acabou por traçar o seu destino político imediato.
O PSD e os seus dirigentes têm uma dívida de gratidão para com Victor Cruz que é justo assinalar.
2. Com a realização dum congresso extraordinário, os sociais-democratas escolherão um novo líder, para conduzir os destinos do PSD. O primeiro grande desafio que se coloca ao PSD é o de se assumir como alternativa e como um partido de alternativas políticas ao PS.
A crise de liderança não determina o fim do PSD, ao contrário do que o PS poderia secretamente desejar, como resulta da crescente tendência hegemónica que diariamente exibe em todos os sectores da sociedade.
A alternativa política que o PSD tem de assumir passa pela denúncia e combate à quase-mexicanização da vida política e social dos Açores.
3. O PSD tem de protagonizar uma luta sem quartel pela qualidade da democracia nos Açores: pela qualidade da democracia no parlamento, transformado pela maioria socialista num centro de poder simbólico, no qual exibe o seu cansaço pelos debates, impondo pela força dos votos a sua vontade; pela qualidade dos protagonistas políticos a todos os níveis, que não devem exibir na vida política virtudes que a sua vida privada não autoriza; pela qualidade e diferença das propostas políticas que simbolizem uma maneira diferente de olhar a sociedade, de resolver os problemas das pessoas e traduzam uma outra maneira de governar os Açores; pela qualidade da sua intervenção na sociedade, de modo a que os eleitores reconheçam o PSD e os seus dirigentes como arautos duma mudança política.
4. No fundo, o PSD precisa duma nova atitude política, depois dum inevitável período de "nojo" após as eleições regionais de 2004. O aggiornamento do PSD entronca numa nova forma de abertura à sociedade civil, de relacionamento com os poderes que dela emanam, de entendimento sobre os anseios das pessoas, em especial, dos que se querem expressar e não o fazem por medo ou receio. A cultura de liberdade – causa pela qual vale sempre a pena lutar, mesmo nos Açores do século XXI – tem de ser um imperativo ético dum partido social democrata que também não pode ter receio de assumir rupturas na sociedade açoriana, em domínios como a educação, a saúde ou a organização do Estado.
5. Uma palavra, aqui, para me referir a um aspecto essencial para a nossa vida enquanto comunidade política organizada: a revisão do Estatuto Político-Administrativo. O processo de revisão da nossa "lei fundamental" não deve ser um processo pastoso, no qual se confundam as propostas do PSD e do PS, sobretudo porque o PSD tem um património quanto ao aprofundamento da autonomia que não pode, nem deve abandonar, sob pena de se negar a si próprio.
Por isso mesmo, o PSD deve apresentar – para provocar um amplo debate público – a sua própria proposta de revisão do Estatuto, sem prejuízo, das conversações que possa manter com o PS quanto à revisão do Estatuto e do diálogo com outras forças políticas com assento parlamentar.
6. O próximo congresso do PSD terá de ser o congresso duma inevitável clarificação. Não entre uma nova e uma velha geração, como alguns querem fazer crer, mas entre atitudes e modos de fazer política.
O congresso do PSD não será o congresso da eleição dum líder de transição, porque esta é apenas a tese daqueles, poucos, preocupados com o esgotamento do seu próprio tempo. Será sim, a transição para uma nova fase, para um novo tempo.