OUTROS FUTEBÓIS
1. Com a placidez do costume, a maioria parlamentar socialista na Assembleia Legislativa aprovou o plano e orçamento para 2006. A argumentação do Governo começa a ser recorrente: "o maior investimento de sempre" associado ao facto de não haver aumento do endividamento directo da Região., com uma "diminuição da despesa corrente". Com a chegada de Sérgio Ávila ao Governo Regional, a discussão das finanças públicas situa-se entre a exibição repetida de gráficos que ilustram as supostas "performances" económicas e o tom altaneiro de quem não deve dar explicações à oposição.
2. Sendo este o segundo orçamento que esta equipa das Finanças prepara, seria de esperar mais serenidade e seriedade no debate, pois é disso que as finanças públicas regionais precisam. Não é possível fazer uma discussão sobre o desenvolvimento dos Açores e sobre as opções económico-financeiras, com base em "meia-dúzia" de chavões que os membros do Governo Regional com responsabilidade nestas áreas se habituaram a reproduzir, qualquer que seja o auditório e, sobretudo, no Parlamento Regional.
3. Como escreveu Eça de Queiroz, "a ciência de governar é neste país uma habilidade, uma rotina de acaso". A discussão dum plano e dum orçamento, no momento económico que o país e a região atravessam, tem de atender às opções de governação política, à escolha entre a dimensão do investimento público e o espaço deixado ao investimento público, às políticas públicas de promoção do investimento reprodutivo e de valorização da nossa base económica, a uma decisiva aposta nas novas tecnologias, ao peso da despesa corrente na despesa pública, à política de desorçamentação através de sociedades anónimas que apenas são centros de despesa e nada mais.
À esquerda e à direita do Governo, reputados economistas – alguns dos quais desempenharam até relevantes funções públicas e no sector público empresarial regional – vêm chamando a atenção para o estado da despesa pública regional, para as opções de investimento e para o fenómeno da criação de empresas periféricas ao orçamento regional, subtraídas ao controlo democrático do parlamento, as quais acumularão, no final de 2005, uma dívida superior a 150 milhões de euros.
4. Como pano de fundo, temos agora a opção pela revisão da Lei das Finanças das Regiões Autónomas, apressada pelo facto do Governo da República – pela primeira vez – ter aplicado o regime da Lei de Estabilidade Orçamental. Sem qualquer reflexão adicional, sem um consenso com os partidos da oposição na Região, o Governo Regional ensaia mais uma fuga em frente, preconizando uma rápida revisão daquela lei, para consumo interno regional e imediato, sem acautelar o que o orçamento de Estado para 2006 em discussão na Assembleia da República pretende negar: um aumento dos meios financeiros colocados à disposição da Região, como forma de proporcionar um desenvolvimento mais rápido que nos permita uma aproximação ao nível médio de desenvolvimento do país.
5. A pressa com que o Governo Regional arrumou o diferendo com o Governo da República em matéria de acertos de transferências financeiras para os Açores é bem reveladora da angústia dos socialistas açorianos. Apesar da cordial recepção de que José Sócrates foi alvo no último congresso do PS, apesar dos elogios que o Primeiro-Ministro fez a Carlos César, a verdade é que, na espuma das notícias, fica um dos mais profundos e contundentes embates entre governos socialistas dos Açores e da República.
6. "Os números dizem o que um homem inteligente quiser que eles digam". A velha frase que todos os economistas conhecem não pode ser o biombo atrás do qual se esconde um ambiente económico regional pouco saudável, no qual até a área do turismo – sempre exibida como expoente máximo – começa a dar sinais preocupantes: as taxas de rentabilidade por cama baixam e a taxas de ocupação em algumas ilhas – como a Terceira – roçam já o dramatismo.
Isto não é como no futebol: o que é verdade agora, pode ser mentira amanhã!
1. Com a placidez do costume, a maioria parlamentar socialista na Assembleia Legislativa aprovou o plano e orçamento para 2006. A argumentação do Governo começa a ser recorrente: "o maior investimento de sempre" associado ao facto de não haver aumento do endividamento directo da Região., com uma "diminuição da despesa corrente". Com a chegada de Sérgio Ávila ao Governo Regional, a discussão das finanças públicas situa-se entre a exibição repetida de gráficos que ilustram as supostas "performances" económicas e o tom altaneiro de quem não deve dar explicações à oposição.
2. Sendo este o segundo orçamento que esta equipa das Finanças prepara, seria de esperar mais serenidade e seriedade no debate, pois é disso que as finanças públicas regionais precisam. Não é possível fazer uma discussão sobre o desenvolvimento dos Açores e sobre as opções económico-financeiras, com base em "meia-dúzia" de chavões que os membros do Governo Regional com responsabilidade nestas áreas se habituaram a reproduzir, qualquer que seja o auditório e, sobretudo, no Parlamento Regional.
3. Como escreveu Eça de Queiroz, "a ciência de governar é neste país uma habilidade, uma rotina de acaso". A discussão dum plano e dum orçamento, no momento económico que o país e a região atravessam, tem de atender às opções de governação política, à escolha entre a dimensão do investimento público e o espaço deixado ao investimento público, às políticas públicas de promoção do investimento reprodutivo e de valorização da nossa base económica, a uma decisiva aposta nas novas tecnologias, ao peso da despesa corrente na despesa pública, à política de desorçamentação através de sociedades anónimas que apenas são centros de despesa e nada mais.
À esquerda e à direita do Governo, reputados economistas – alguns dos quais desempenharam até relevantes funções públicas e no sector público empresarial regional – vêm chamando a atenção para o estado da despesa pública regional, para as opções de investimento e para o fenómeno da criação de empresas periféricas ao orçamento regional, subtraídas ao controlo democrático do parlamento, as quais acumularão, no final de 2005, uma dívida superior a 150 milhões de euros.
4. Como pano de fundo, temos agora a opção pela revisão da Lei das Finanças das Regiões Autónomas, apressada pelo facto do Governo da República – pela primeira vez – ter aplicado o regime da Lei de Estabilidade Orçamental. Sem qualquer reflexão adicional, sem um consenso com os partidos da oposição na Região, o Governo Regional ensaia mais uma fuga em frente, preconizando uma rápida revisão daquela lei, para consumo interno regional e imediato, sem acautelar o que o orçamento de Estado para 2006 em discussão na Assembleia da República pretende negar: um aumento dos meios financeiros colocados à disposição da Região, como forma de proporcionar um desenvolvimento mais rápido que nos permita uma aproximação ao nível médio de desenvolvimento do país.
5. A pressa com que o Governo Regional arrumou o diferendo com o Governo da República em matéria de acertos de transferências financeiras para os Açores é bem reveladora da angústia dos socialistas açorianos. Apesar da cordial recepção de que José Sócrates foi alvo no último congresso do PS, apesar dos elogios que o Primeiro-Ministro fez a Carlos César, a verdade é que, na espuma das notícias, fica um dos mais profundos e contundentes embates entre governos socialistas dos Açores e da República.
6. "Os números dizem o que um homem inteligente quiser que eles digam". A velha frase que todos os economistas conhecem não pode ser o biombo atrás do qual se esconde um ambiente económico regional pouco saudável, no qual até a área do turismo – sempre exibida como expoente máximo – começa a dar sinais preocupantes: as taxas de rentabilidade por cama baixam e a taxas de ocupação em algumas ilhas – como a Terceira – roçam já o dramatismo.
Isto não é como no futebol: o que é verdade agora, pode ser mentira amanhã!